De repente

Às vezes, sem tempo determinado ou motivação explícita, somos sugados para fora de nós mesmos, dos nossos hábitos, da nossa apatia e da forma acomodada como vemos a vida. Ainda que sugar sugira “puxar para dentro”, a ideia aqui é de ser puxado para fora mesmo. Subitamente expandidos, elásticos e flexíveis.
De repente me vi assim. Ou melhor, parei de me ver e comecei a enxergar outras coisas que pairavam ao meu redor e às quais eu não estava dando devida atenção. De repente deixei meus anseios de lado e as manhãs se tornaram pequenos momentos de tortura onde a obrigação de cumprir com os compromissos frustava a minha vida.
Vez por outra, sem tempo determinado ou motivação explícita, somos indefensavelmente sugados para fora de nós mesmos, dos nossos hábitos, da nossa apatia e da forma acomodada como vemos a vida. Isso. Ainda que sugar sugira “puxar para dentro”, a ideia aqui é de ser puxado para fora mesmo. Subitamente expandidos, elásticos e flexíveis. E eu não falo sobre revoluções e caos, falo sobre coisas simples como o debruçar de um olhar diferente sobre todas as coisas.
De repente descobri um mudo mudo que se apresenta aos olhos como um quadro vivo e me oferece um mundo de inspiração. De repente derrubei muros que custei tanto a construir e atrás deles encontrei pedaços esquecidos de mim. De repente quis mudar meu destino e desistir de tudo o que me ocupa um tempo sem retorno. E quis viajar pra onde for, mesmo que sozinha, para poupar meus ouvidos dos diálogos vazios.
De repente eu percebi que me afastei o suficiente do meu epicentro, deixei de ser o olho que vê sempre a partir de si mesmo e fui, ainda que por breves momentos, um observador externo da minha própria condição. Como que uma segunda pessoa que andasse ao meu próprio lado, me olhando. E assim esvaziei-me de um milhão de vontades bobas e desejei que essa ebulição nos sentidos durasse pra sempre, e que durasse pra sempre também, o silêncio que precede qualquer explosão.

Deixe um comentário